segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

POEMA DE NATAL

Vinícius de Moraes
(em "Nova Antologia Poética")
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos-
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai-
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança do milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte-
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Opostos

Airton Mendes (12/2008)


Sempre é muito tempo
Sempre é tempo algum
Nunca é bastante tempo
Nunca é tempo nenhum

O NÃO é exato, absoluto
Nem sempre é assim
E se, numa esquina do tempo.
O não cruzar com o sim?

Nem sempre sei o que quero
Por vezes é difícil saber
Sempre sei o que não quero
É mais fácil não querer?

Opostos estão a nos seguir
Opostos nos ajudam a viver
Opostos nos fazem sentir
Que para ter é preciso perder

Nunca e sempre,
Não e sim,
Opostos estão entre,
Opostos se unem no fim