domingo, 13 de janeiro de 2013

A necessária solidão



Airton Mendes (03/2012)
O prazer de levar o barco
de volta para casa
de contemplar a tarde morna
de sentir os pés molhados
de conversar com os peixes

O caminho pela praia é longo
tanto melhor
o tempo é meu amigo
o tempo e a solidão
casal de amigos
sempre presente

A lua mergulhou no mar
e o único sinal da minha pegada
é um reflexo prateado
que dura até o próximo passo

Próximo ao cais um navio ancorado
é um grande cargueiro
terá trazido alimentos?
roupas? máquinas? bugigangas?

Não importa
ele não é maior que meu barco
nem seu trajeto
é mais longo que o meu
e nem a sua sina
melhor que a minha



dor e prazer



Airton Mendes (08/2012)
Esta vida
supostamente minha
às vezes me traz indagações
que preferia ficassem trancadas
no sótão
ou no porão
da guarida da existência

Uma delas -que admito-
gostaria manter presa
é o contraponto
dor e prazer:

Qual o porquê
de levar ao extremo
do suportável
(da dor ignara
e do prazer ignavo)
este corpo que
creio meu?

E se sendo
tornam-se justos
os novos prazeres
e as velhas satisfações?

E não sendo:
em que recôndito
baú do caráter
estará trancada

A consciência?