Airton Mendes (07/2011)
Na cidade
-rotina de olhos baixos
Num poste distraído
encontras comigo
Na cômica cena
Permuto a vergonha
pela beleza natural
do teu riso incontido
De tão bela
assim sorrindo
esqueci o arranhão
a dor, o poste inimigo
Lembro-me do sorriso
e da tua voz
Lembro-me do quarto de hotel
e da noite quente
Mas não me lembro dos teus olhos
Airton Mendes (07/2011)
Da infância, lembro-me de Santa cruz
e do seu lamacento Rio Pardo
Das suas águas frias
Do medo de pular da ponte
Das frutas na porta da vendinha
Do cinema sempre fechado
Na praça, imponente,
o Clube dos Vinte
determinava quem e quantos
ali mandavam
Ainda guardo a velha fotografia
Os irmãos abraçados
a igreja envidraçada
o sorriso clicado
Existiam as garotas, tantas e lindas
(e menino de cidade grande lá fazia sucesso)
Existia o sorvete
Existia o sítio
Existia o cavalo
Existia a funerária
E existia Maria
minha querida avó
minha avó cigana
minha “vó” Maria
Da casinha aconchegante
Das comidas deliciosas
Do sorriso
Do carinho
Maria, nossa cúmplice
escondia nossas artes
Competia com mamãe
Quem era mais mãe?
Nem avó nem mãe
Maria era a cidade
Santa cruz morreu com ela...
Airton Mendes (02/2011)
O mundo é do tamanho
Da minha retina
Os sabores são aqueles
Que minha boca provou
As notícias são as que leio
Com os olhos da televisão
Faço o que é permitido
E o que é devido
O mundo é bom
Deus é bom
Mas pago meu dízimo
Ao Diabo